O anúncio de Elon Musk sobre o "Partido da América" parece ser uma reação à sua desavença com Trump e à frustração com o sistema político dos E.U.A., particularmente em relação ao "One Big Beautiful Bill" e seu impacto nos gastos do governo. Ele está promovendo-o como uma alternativa centrista ao "uniparty" democrata-republicano, afirmando que representaria os "80% do meio." A ideia ganhou força após uma pesquisa no X, onde 80% dos entrevistados apoiaram um novo partido, embora isso seja uma amostra tendenciosa, uma vez que os usuários do X tendem a favorecer a visão de mundo de Musk.
O conceito parece ousado, mas enfrenta enormes obstáculos. Os terceiros partidos nos E.U.A. historicamente lutaram devido a barreiras legais, como as regras de acesso às cédulas que variam de estado para estado, e o poder entrincheirado dos dois principais partidos. A riqueza de Musk—estimada em mais de 350 bilhões de dólares—dá-lhe uma oportunidade de financiá-lo, mas mesmo os 277 milhões de dólares que gastou nas eleições de 2024 através do America PAC não se traduziram em influência política duradoura. Especialistas apontam que terceiros partidos, como o de Ross Perot em 1992 ou o Partido Bull Moose de Teddy Roosevelt, muitas vezes se esvaziam ou atuam como sabotadores sem conquistar assentos importantes. A estratégia de Musk de direcionar alguns assentos chave da Câmara e do Senado para agir como desempates é inteligente, mas assume que ele pode reunir eleitores e candidatos suficientes dispostos a romper com o GOP ou os Democratas, o que é duvidoso dado a sua imagem polarizadora—59% dos independentes o veem de forma desfavorável, segundo pesquisas recentes.
Por outro lado, a pressão de Musk aproveita uma insatisfação real. Dados da Gallup mostram que 58% dos E.U.A. querem um terceiro partido, e os independentes estão se tornando um bloco crescente com 43%. Seu foco no conservadorismo fiscal e na redução de desperdícios do governo pode ressoar com alguns, especialmente aqueles cansados de orçamentos inchados. Mas sua plataforma vaga—além de se opor aos gastos excessivos—falta clareza, e seu recente alinhamento com causas de direita, como apoiar o partido Vox da Espanha ou amplificar visões controversas, pode alienar os moderados que ele afirma representar. Além disso, o domínio de Trump no GOP (90% de aprovação entre os republicanos) torna difícil descolar o apoio conservador sem ser visto como um traidor.
Vale a pena notar também o padrão de grandes promessas de Musk que nem sempre se concretizam. Ele já apresentou ideias de terceiros antes, como em 2022, mas mudou para apoiar os republicanos em vez disso. Este pode ser outro gesto barulhento para pressionar o GOP em vez de um compromisso sério. Se ele seguir em frente, o Partido América pode abalar algumas corridas, mas perturbar o sistema bipartidário é uma tarefa difícil. Trata-se menos de detalhes de políticas e mais do ego de Musk e da sua influência a pressionar contra um sistema que ele sente que o ignorou.[](